Wellington Cirino vence e Leandro Totti conquista o bicampeonato da F-Truck.

Paranaense da RM Competições leva Volkswagen-MAN ao segundo lugar no GP Crystal e comemora em Goiânia segundo título brasileiro
Líder da temporada desde a primeira etapa, Leandro Totti conquistou o título de 2014 do Campeonato Brasileiro de Fórmula Truck. O paranaense da RM Competições, piloto de um Volkswagen-MAN, alcançou seu segundo título com o segundo lugar na décima e última etapa, neste domingo (7) em Goiânia (GO). A vitória no Autódromo Internacional Ayrton Senna foi do também paranaense Wellington Cirino, piloto do Mercedes-Benz da ABF-Santos.

Totti dependia de um sexto lugar para ser campeão. A ameaça ao título vinha do paulista Felipe Giaffone, seu companheiro de equipe, que conquistou a pole position para a etapa goiana. Vice-líder da temporada, o tricampeão viu suas chances de igualar o tetracampeonato de Cirino acabarem ainda no início da prova, com problemas no câmbio que o levaram aos boxes – a equipe ainda tentou a troca do componente com a corrida em andamento.

“O título já estava dentro da equipe, que fez um excelente trabalho com os dois caminhões, tanto o Felipe quanto eu tivemos um equipamento bom o bastante para pensar em título”, destacou Totti na entrevista aos jornalistas após a comemoração no pódio. “O Felipe era mais rápido no seco, era favorito. Com a chuva eu comecei a ficar preocupado, porque na chuva tudo vira loteria, pilotos escapando o tempo todo, a chance de sair da pista e bater é grande”.

O novo bicampeão admitiu que teve acessos de insônia na madrugada que antecedeu o GP Crystal, etapa decisiva da temporada. “Foi preocupação com a chuva. Antes da corrida eu tomei uma decisão errada, pedi à equipe que endurecesse o meu caminhão, porque poderia secar a pista, mas choveu de novo e ficou muito difícil guiar. Eu relarguei mal, cometi erros, saí da pista, foi tudo muito complicado. No fim deu tudo certo”, aliviou-se.

Giaffone cumprimentou o companheiro de equipe pelo título. “Ele mereceu mesmo ganhar o campeonato. Eu que se eu ganhasse o campeonato não seria justo, por tudo que ele fez, embora eu até quisesse essa ‘injustiça’ se fosse para o meu lado”, declarou, em tom de bom-humor. “Mas foi justo, sim, e o título está em boas mãos. Ele foi campeão ganhando seis corridas, ninguém deve perder um campeonato depois de conquistar tudo isso”.

O nível de competitividade da RM Competições deixa Giaffone satisfeito. “Eu estaria superconformado por perder o título ganhando a corrida, e tinha a chance de ganhar, mas prefiro quebrar na liderança que em outra posição. Se quebrei na liderança é porque está bom e isso nos dá muito ânimo para o ano que vem. Já temos um caminhão bem acertadinho, agora é focar o próximo campeonato e trabalhar para disputar o título mais uma vez”, disse.

Cirino, que comemorou sua 24ª vitória na Fórmula Truck, manteve a série de vitórias da Mercedes-Benz em todas as temporadas, sequência a que ele próprio deu início quando levou um caminhão da marca ao topo do pódio pela primeira vez, em 2001, em Curitiba. O resultado do GP Crystal ratificou o terceiro lugar do paranaense na classificação do campeonato. “Com o recurso que tivemos neste ano, é um resultado excelente”, considerou.

O vencedor da etapa goiana frisou a etapa difícil. “Todo piloto precisa de sorte para vencer. Hoje eu tive um caminhão bom e também tive sorte. Quando a chuva apertou ficou escorregadio para todos e o segredo seria errar o menos possível. Choveu forte no fim, mas eu já tinha conseguido uma vantagem boa. Agora vamos trabalhar para ter, em 2015, o apoio que a Mercedes-Benz nos deu todas as vezes que fomos campeões”, finalizou.

As seis vitórias de Totti no campeonato de 2014 igualam o recorde da Fórmula Truck em uma mesma temporada desde que as etapas passaram a compreender uma única corrida, em 2001. Repete-se a marca que ele próprio alcançou com as seis vitórias que marcaram seu título em 2012 – Roberval Andrade, quando foi bicampeão em 2010, ganhou cinco etapas, número que seria repetido por Felipe Giaffone quando chegou ao tricampeonato em 2011.

A CORRIDA
A prova começou com uma condição de pista que os pilotos não haviam experimentado durante a programação de treinos de GP Crystal: asfalto úmido, em um estágio intermediário de aderência em relação ao seco e ao molhado. A direção de prova determinou que todos os caminhões fossem equipados com os pneus de banda intacta, com sulcos intactos. A largada foi dada com o Pace Truck na pista, respeitando-se os procedimentos de neutralização.

A disputa por posições foi autorizada depois de uma volta sob bandeira amarela. Com os pilotos formando fila indiana única, como reza o procedimento de relargada, houve poucas mudanças de posição. O maior desafio dos pilotos era a adaptação à condição de aderência. No complemento da segunda volta, Roberval Andrade ultrapassou Djalma Fogaça e assumiu o sexto lugar. José Maria Reis, piloto goiano, fez uma rápida parada nos boxes.

Uma volta depois, no complemento da terceira, André Marques assumiu o sétimo lugar ultrapassando Fogaça, enquanto Valmir Benavides e Marcello Cesquim paravam nos boxes. Danilo Dirani, ao mesmo tempo, parava à beira da pista com problemas no motor. Companheiro de equipe de Dirani, Andrade chegou a ultrapassar Paulo Salustiano e assumir o quinto lugar. Na sequência da manobra, acabou ultrapassado por Salustiano e Fogaça.

A abertura da quarta volta marcou o estouro do pneu traseiro esquerdo externo do caminhão de Salustiano em plena reta dos boxes – o piloto teve de completar a volta inteira em ritmo lento até parar nos boxes. No mesmo ponto onde Andrade havia ultrapassado Salustiano e perdido posições, foi Wellington Cirino quem acabou saindo da pista, perdendo o segundo lugar para Leandro Totti. Fogaça, com problemas mecânicos, abandonou à beira da pista.

A direção de prova anunciou um drive-thru como punição a Andrade, por um toque no caminhão de Salustiano, que provocou o estouro do pneu. Totti, que completou a quarta volta quatro segundos atrás de Giaffone, conseguiu a liderança na abertura da quinta volta, aproveitando a queda momentânea de rendimento do caminhão do paulista, que liderava desde a largada. Ainda na quinta volta, foi a fez de Diogo Pachenki parar nos boxes com problemas.

Totti completou a sexta volta mais de três segundos e meio à frente de Giaffone, que enfrentava problemas com o câmbio e acompanhava a rápida aproximação de Cirino, Marques, Andrade e Adalberto Jardim. Na oitava volta, os quatro ultrapassaram o caminhão MAN do tricampeão. Andrade, antes de cumprir sua punição, superou Jardim e Marques para ocupar o terceiro lugar – depois de cumprir o drive-thru, voltou à pista em nono lugar.

A intervenção programada do Pace Truck a um terço de prova mostrava Totti, Cirino, Marques, Jardim e Giaffone ocupando as cinco primeiras posições – que valem pontos de bonificação. Ao marcar um ponto como quinto colocado, Giaffone, que já tinha os pontos de bonificação da pole position e da volta mais rápida da corrida, manteve a última chance matemática que tinha de superar o companheiro de equipe para conquistar o título.

O problema de Giaffone, contudo, levou a RM Competições a assumir uma missão atípica: a troca do câmbio com a corrida em andamento. A disputa pela liderança foi reiniciada com a chuva em uma intensidade um pouco maior que no instante do início do GP Crystal. Cirino conseguiu uma retomada de velocidade mais eficiente e ultrapassou Totti, que, na tentativa do revide, saiu da pista ao fim da reta dos boxes e caiu para o sexto lugar.

Um toque entre Andrade e Gustavo Magnabosco deixou o caminhão do paranaense atravessado na pista. Vários pilotos desviaram do incidente pela área de escape. Geraldo Piquet, que fazia corrida de recuperação depois de largar dos boxes, atingiu a traseira do caminhão de Magnabosco e abandonou. Na volta seguinte, Salustiano e Luiz Lopes, no pelotão intermediário, rodavam na pista e caíam para o fim do pelotão.

A posição de risco do caminhão de Piquet na área de escape provocou uma nova neutralização da corrida, com a entrada do Pace Truck na pista. As voltas percorridas sob bandeira amarela na F-Truck não são computadas pela cronometragem, conforme prevê o regulamento. A essa altura, Giaffone tinha duas voltas de desvantagem em relação ao líder Cirino, na 19ª posição. Depois de uma volta, uma nova relargada foi autorizada.

Andrade ultrapassou David Muffato logo após a relargada e assumiu a quarta posição na corrida. Na mesma volta, tomou o terceiro lugar de Marques e superou Jardim para ser segundo colocado. O início de sua perseguição ao líder Cirino coincidiu com a intensificação da chuva em Goiânia. A tentativa de ultrapassagem foi marcada por um toque entre os dois, que seguiram na pista. Andrade assumiu a liderança, mas recebeu outro drive-thru.

A punição pelo toque com Cirino foi cumprida por Andrade na 15ª volta. Ele retornou à pista em oitavo, enquanto Totti ultrapassava Marques para ser o segundo colocado, mais de cinco segundos atrás do líder. Andrade, na volta número 18 ele ganhou as posições de Pedro Muffato, Beto Monteiro e Jardim, voltando ao grupo dos cinco primeiros, que integram o pódio de cada etapa. O quarto lugar veio na volta 19, superando David Muffato.

O ritmo forte que Andrade imprimiu no asfalto encharcado permitiu-lhe voltar a ser terceiro colocado ainda na 20ª volta, quando ultrapassou Marques. A corrida estava a seis minutos do fim e Totti, o segundo, estava pouco mais de dois segundos e meio à sua frente. O líder Cirino administrava a vantagem de mais de 10 segundos. Com a aderência bastante comprometida, tanto Totti quanto Andrade saíram da pista no mesmo ponto na 21ª volta.

Monteiro superou Muffato também na 21ª volta, tirando o paranaense da posição que lhe valeria a conquista do primeiro pódio na Fórmula Truck. Jardim e Magnabosco também ultrapassaram Muffato. Na abertura da penúltima volta, enquanto vários pilotos rodavam por conta da pista encharcada, Magnabosco – também em busca do primeiro pódio – iniciou a pressão sobre Monteiro. Cirino abriu a volta final quatro segundos e seis décimos à frente de Totti.

A condição da pista era tão crítica que Totti aniquilou essa diferença na volta final. Chegou a tentar a ultrapassagem na última curva do GP Crystal e, tendo de controlar o caminhão que atravessava na área de escape, festejou o título com o segundo lugar. Marques perdeu posições na volta final e o pódio acolheu, também, Andrade, Monteiro e Magnabosco, que recebeu seu primeiro troféu ao lado de quatro pilotos campeões da Fórmula Truck.

GP CRYSTAL – RESULTADO FINAL
(Classificação da 10ª etapa após 24 voltas)
1º) Wellington Cirino (PR/Mercedes-Benz), ABF-Santos Desenvolvimento, 1h02min06s418
2º) Leandro Totti (PR/Volkswagen), RM Competições, a 1s787
3º) Roberval Andrade (SP/Scania), Ticket Car-Corinthians Motorsport, a 6s492
4º) Beto Monteiro (PE/Iveco), Scuderia Iveco, a 23s100
5º) Gustavo Magnabosco (SC/Volvo), ABF Motorsport, a 23s905
6º) André Marques (SP/Volkswagen), RM Competições, a 24s631
7º) Adalberto Jardim (SP/Volkswagen), RM Competições, a 25s639
8º) David Muffato (PR/Ford), DF Racing Fans, a 38s569
9º) Rogério Castro (GO/Mercedes-Benz), ABF Desenvolvimento Team, a 50s755
10º) Pedro Muffato (PR/Scania), Muffatão, a 51s931
11º) Jansen Bueno (PR/Scania), Muffatão, a 1min01s010
12º) João Marcos Maistro (PR/Volvo), Copacol Clay Truck Racing, a 1min14s148
13º) Paulo Salustiano (SP/Mercedes-Benz), ABF Racing Team, a 1min16s317
14º) Débora Rodrigues (SP/Volkswagen), RM Competições, a 1min24s131
15º) Raijan Mascarello (MT/Ford), DF Racing Fans, a 1min46s151
16º) Luiz Lopes (SP/Iveco), Lucar Motorsports, a 1min59s731
17º) José Maria Reis (GO/Ford), Original Reis Competições, a 2 voltas
18º) Diogo Pachenki (PR/Volvo), Copacol Clay Truck Racing, a 5 voltas
19º) Jaidson Zini (SP/Iveco), Dakarmotors, a 5 voltas
NÃO COMPLETARAM
Leandro Reis (GO/Ford), Original Reis Competições, a 10 voltas
Felipe Giaffone (SP/MAN), RM Competições, a 15 voltas
Geraldo Piquet (DF/Mercedes-Benz), ABF-Santos Desenvolvimento, a 15 voltas
Djalma Fogaça (SP/Ford), DF Racing Fans, a 21 voltas
Valmir Benavides (PR/Iveco), Scuderia Iveco, a 21 voltas
Danilo Dirani (SP/Scania), Ticket Car-Corinthians Motorsport, a 22 voltas
Marcello Cesquim (PR/Mercedes-Benz), ABF Racing Team, a 24 voltas
Melhor volta: Giaffone, na 3ª, 1min50s698, média de 124,717 km/h

CLASSIFICAÇÃO DA FÓRMULA TRUCK
(Pontuação final do Campeonato Brasileiro de 2014)
1º) Leandro Totti, 228
2º) Felipe Giaffone, 184
3º) Wellington Cirino, 171
4º) Roberval Andrade, 125
5º) Geraldo Piquet, 95
5º) André Marques, 95
7º) Beto Monteiro, 82
8º) Paulo Salustiano, 75
9º) Adalberto Jardim, 59
10º) Danilo Dirani, 55
11º) Marcello Cesquim, 46
12º) Diogo Pachenki, 34
13º) Jansen Bueno, 33
14º) Gustavo Magnabosco, 28
14º) Valmir Benavides, 28
16º) Raijan Mascarello, 19
16º) Débora Rodrigues, 19
16º) David Muffato, 19
19º) João Maistro, 17
20º) Djalma Fogaça, 14
21º) Pedro Muffato, 13
22º) Luiz Lopes, 12
23º) Ronaldo Kastropil, 11
23º) Leandro Reis, 11
25º) Michelle de Jesus, 7
26º) Rogério Castro, 6
27º) Jaidson Zini, 3
Marcas
1º) MAN, 456
2º) Mercedes-Benz, 335
3º) Scania, 207
4º) Iveco, 112
5º) Volvo, 104
6º) Ford, 62