Personalidade: Luis Pereira Bueno

Antes de se comentar, ou fazer qualquer comentário, sobre este extraordinário piloto que foi Luis Pereira Bueno, é imperioso que se escreva algumas palavras sobre Claudio Daniel Rodrigues, pois foi ele quem ensinou grande parte da maestria que Luis possuia, naturalmente, e que a bem da verdade, ainda possui.

Claudio Daniel Rodrigues era proveniente da aviação e, entendidos do automobilismo tais como Jorge Lettry dizem, categoricamente, que houve no esporte a motor brasileiro a “era” antes e depois de Claudio, tamanho conhecimento técnico de que era possuidor.

Preparava os MGs T.C que, acreditem ou não, andavam junto com as Ferraris e Maseratis da época. Carroceria de alumínio, compressor, muitos testes e experiências com pneus de várias medidas, para verificar qual o que melhor se adaptava ao tempo seco e ao molhado também. Verifiquem que estamos nos referindo aos anos 50, e aqui no Brasil.

Pois foi este mestre que “pegou” Luis Pereira Bueno para amaciar estes MGs no Autódromo de Interlagos, isto quando o Luis tinha 13/14 anos, lhe ensinando desde o ABC até o Z. Combinava que determinado dia o amaciamento era até 3500 RPM e então o Luis ia pilotando o mais rápido que podia, sem passar desse regime. Com o aprendizado desta técnica, sempre foi além de muito rápido, um piloto que tratava muito bem de seus carros, no sentido de pilotagem é o que me refiro.

Ainda sobre Claudio Daniel Rodrigues, é obrigatório que se mencione que foi ele quem lançou o Kart no Brasil, sendo o primeiro construtor e incentivador desta pequenas viaturas, que tão bons nomes produziram no cenário nacional e internacional tais como Maneco Combacau, Emerson Fittipaldi, José Carlos Pace e Wilson Fittipaldi, para citar alguns nomes, e sem comentar de Ayrton Senna, evidentemente.

A primeira corrida se deu no Jardim Marajoara, em São Paulo, com a presença e participação do saudoso Chico Landi.

Luis Pereira Bueno foi um grande piloto. Nunca o vi rodando. Quando o carro lhe era desconhecido, começava a uma velocidade de moderada para boa. Conforme “sentia” o carro, ia imprimindo-lhe cada vez mais potência. Em ocasiões em que o motor começava a esquentar mais do que o devido conseguia, sem aumentar o tempo em demasia, que a temperatura abaixasse a termos razoáveis.

Em corridas longa sabia dosar o freio como ninguém. Na neblina era um mestre, a bem da verdade junto com Cyro Cayres e Bird Clemente. Se o carro durante a corrida mudava de comportamento, ou devido a uma barra estabilizadora quebrada ou por causa de uma leve batida, mudava imediatamente o trajeto que estava usando até aquele momento, mas continuava a virar no mesmo tempo em que anteriormente estava virando. Historica e mundialmente falando, somente o grande Jim Clark conseguia tal feito.

Em sua primeira corrida de Formula 1 foi o 6º colocado, correndo com um Surtees. Nesta corrida, houve um fato surpreendente: os campeonatos mundiais naquele tempo começavam na África do Sul; Após a corrida, os carros eram desmontados e mandados para o Brasil em Interlagos. Quando os treinos começaram, após dua voltas, Luis parou no boxe e comentou com John Surtees que o carro estava “inguiável”. Surtees lhe disse que talvez ele não tivesse o “dom” necessário para pilotar um Formula 1. Após mais duas voltas, Luisinho foi categórico para com Surtees, dizendo que havia alguma coisa muito errada no carro e lhe pedindo para que José Carlos Pace, o “Moco” experimentasse dar algumas voltas, pois como era o piloto oficial da Surtees, daria uma opinião mais abalizada do que estaria ocorrendo. Pace então saiu com o carro de Luis e nem completou a volta, retornando aos boxes imediatamente para dizer ao John Surtees que o carro estava “inguiável” .
Constatou-se então que na montagem apressada os mecânicos tinham invertido um dos triângulos dianteiros e com isso o carro tinha uma medida diferente para cada lado do entre-eixos. De imediato, Surtees pediu mil desculpas.

Luis Pereira Bueno foi protagonista de corridas memoráveis, como os 500 Km de Interlagos pelo anel externo, onde com um Porsche 908, e manteve um duelo impressionante com o suiço Herbert Müller, este com um Porsche 908 barra 3; ou na Áustria, com o mesmo Porsche 908, quando largou no meio das Ferraris de fábrica, junto com pilotos do nível de Roonie Peterson, Jack Icks, José Carlos Pace, Arturo Merzário e Tim Shenkins.

Piloto exemplar, com um grande senso de profissionalismo, sempre vestiu a camisa das equipes por onde passou. Com ele, segredo nunca vazou. Um grande amigo. Meu professor, com muita paciência, pois o aluno não era dos melhores.

Nestes tempos difíceis, a vida não lhe está nada fácil. Alguns amigos lhe ajudam com alguma coisa, mas é muito pouco para uma pessoa que fez o prazer de tantos, o vendo pilotor.

Francisco Lameirão
Agosto de 2003

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