Arrancada: da Brasília socada ao Gol Mágico

Sergio Ganga, o Sapinho, conta sua história no mundo da Arrancada

Da época de uma Brasília rebaixada, daquelas gênero “socada no chão”, sobrou praticamente só o apelido que os amigos deram a Sérgio Ganga. Desde então o técnico em elétrica e eletrônica deu asas ao seu sonho e hoje, aos 52 anos de idade, Sapinho consolidou a marca famosa pelos câmbios especiais no mundo da arrancada, além dos resultados que ele próprio acumula em suas puxadas com o Gol Mágico identificado pelo numeral 390, uma das atrações da quarta etapa do Campeonato Paulista de Arrancada, prova que acontece neste final de semana no Race Valley, em Tremembé (SP).  Na sede de sua empresa, no bairro paulistano do Jardim Brasil, cerca de 20 pessoas trabalham para atender pedidos que chegam de todo o Brasil e até mesmo do Exterior. Ganga lembra a origem do apelido que virou nome dos mais conhecidos:

“Na minha época de juventude eu era um moleque que andava com uma Brasília que, de tão rebaixada, pulava que nem um sapo. Não demorou muito para um amigo começar a me chamar de Sapinho e o apelido colar…”

Os 12 anos na sua primeira profissão não seguraram o sonho alimentado desde criança, quando já brincava com carrinhos rebaixados manualmente. A paixão pelo automobilismo encontrou lugar no mundo da arrancada “que era a categoria onde eu podia competir” e foi nessa modalidade que o piloto disputou suas primeiras provas oficiais com uma picape Saveiro CHT preparado por ele mesmo. Antes disso desenvolveu sua técnica de pilotagem com um Gol Furgão, tudo fruto da necessidade:

“Eu atravessava um momento muito difícil na minha vida e acabei montando uma oficina na garagem de casa, onde também trabalhava no carro de amigos. Aí montei a Saveirinho para andar em Interlagos e ao ver que os câmbios quebravam muito resolvi tentar resolver esse problema.”

A equipe da fábrica está sempre presente nos eventos realizados no Race Valley, em Tremebé, SP (Divulgação)
A equipe da fábrica está sempre presente nos eventos realizados no Race Valley, em Tremebé, SP (Divulgação)

Nessa época todo o trabalho era terceirizado e, em busca de soluções para fabricar suas relações de câmbio Sapinho conheceu João Roberto Tasso, mais conhecido como João Tiozinho, então responsável pela retífica das engrenagens. Em um fim de semana que os dois viajaram juntos para um evento em Curitiba surgiu a ideia de unir forças e os dois estão juntos até hoje. João Tiozinho cuida da parte de fabricação e Sapinho do atendimento a clientes, fazendo montagem e regulagens. Um ar familiar é garantido pela presença da filha de Tasso no departamento financeiro.

“Minha família também me apoia, pois sabe o quanto gosto disto tudo. Eu tenho 2 meninas e a mais velha já trabalhou um período comigo, mas não se interessou muito por este mundo. A outra ainda é pequena.”

O Gol 3900 é o VW de tração dianteira mais rápido do mundo segundo registros internacionais (Divulgação)
O Gol 390 é o VW de tração dianteira mais rápido do mundo segundo registros internacionais (Divulgação)

O sucesso da marca criada em 2003 se deve em grande parte ao trabalho de desenvolvimento da oficina e de sua participação como piloto do Gol identificado pelo numeral 390. Ganga e João Tiozinho usam o carro para validar os produtos que desenvolvem e, mais tarde, são disponibilizados aos clientes, prática que inclui peças de motor, câmbio e transmissão. Esse hatch é, segundo seu proprietário, um dos mais velozes na história da marca:

“Já batemos vários recordes, inclusive mundiais, na categoria; hoje esse carro é o VW de tração dianteira mais rápido do mundo, quarto lugar na classificação geral dos tração dianteira do mundo. Mas não queremos parar por aí: nosso objetivo com este carro novo é ser em breve o primeiro da lista, chegar aos 5”0 nos 201 metros do asfalto do Race Valley.”

Empresário de sucesso no universo das puxadas, Sergio Ganga tem uma visão privilegiada do que é necessário para tornar a arrancada uma especialidade cada vez mais popular junto ao público e aos competidores:

“Eu sonho em ver a arrancada crescer e colaborar para a entrada de grandes nomes como patrocinadores e apoiadores. A colaboração dos organizadores e do publico para que isto aconteça é muito importante para que isso aconteça. Por outro lado, o custo cada vez mais alto para a montagem de carros competitivos não colabora. Devemos tomar cuidados para que novos pilotos entrem e os atuais não saiam.”